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Friday, October 21, 2011

Última Sessão






      Murilo não havia levado companhia e ali permanece agarrado em sua poltrona, dividindo a atenção com o copo de refrigerante de tamanho médio. Suas mãos suam. Vez e outra é tomado por arrepios. Seu coração fica acelerado. Raramente seus olhos se desviam da tela.
      De repente, a imagem do telão some. Uma a uma, as luzes de emergência vão se apagando. Murilo se arrasta, totalmente às cegas, em direção à saída que, até então, está livre. Antes que pudesse olhar para trás, algo o segura pelos pés, ficando de cabeça para baixo.
       Uma voz densa e cavernosa dança pelo ar, repetindo sons ininteligíveis; ela vem de uma silhueta mal iluminada pela luz tênue do projetor, suas feições ocultas exceto por uma cicatriz no pescoço.

       – Não me mate, por favor! – implora Murilo, debatendo-se no ar.

       Murilo demorou algum tempo para descobrir o motivo da sua paralisia, mas no final era bem mais simples do que pensava. Simplesmente foi cortado ao meio, na altura do peito. Um funcionário do cinema chega ao local para guiar os espectadores à saída, porém a cena de massacre sumira. É como se nada tivesse acontecido. Murilo desperta. Seu semblante não é mais o mesmo. Cismado, talvez. Um alívio por tudo isso ter sido somente um sonho.
       Nem tudo o que se quer é o que se tem. Enquanto as pessoas se ajeitam para deixar a sala, Murilo nota algo de estranho no funcionário. Antes que pudesse ter a sensação de que aquela marca no pescoço já foi vista por ele, o terror começa de novo.

Sunday, October 9, 2011

Ele





      Dei um pulo à janela do meu quarto.
      O céu cancerígeno me deixava desanimado. Na calçada, meu pai lavava com total cuidado o seu Dodge anos 70. Esse era o melhor momento para... Arrastei a cama até o guarda-roupa. Subi. Estiquei o corpo o máximo que pude. E finalmente consegui pegar o porquinho. Sabe, esse porquinho é um tanto brega, mas seu conteúdo é...
     Pus a cama no mesmo lugar de antes. Caí de barriga para baixo na cama. Durante minutos, pensava na melhor maneira de pegar a grana sem danificar o porquinho porque se meu pai descobrisse que tentei... não quero nem imaginar o que o chato de galocha faria comigo.
      De repente, senti o porquinho ficar quente. Me recolhi para a beirada da cama enquanto o porquinho ficava sinistramente imóvel. Meus olhos ficaram super arregalados quando vi os olhinhos bregas dessa coisinha brilharem um vermelho diabólico.
    Em milésimos de segundos, percebi que sua boquinha se mexeu em um movimento que se traduziu numa frase: cê vai para o inferno!
      Em um ritmo assustadoramente lento, eu estava sendo sugado para dentro do porquinho.