Pronto.
Meia-noite.
O sono não vem. É
natal. Hora dos presentes? Mas sou velha para isso.
- Marta! Marta! Vem cá!
- O que é, paspalho!?
- Vem ver! A chaminéééééé!
Saí do quarto com toda
raiva do mundo. Sabe, aquela raiva típica de adolescente. Eu queria
apenas ficar deitada e ver as horas passarem.
- Então? - eu quase gritei,
do vão da porta da sala.
- Oh...
O paspalho olhava para chaminé como se
ali estivessem os carros da Montaun. Estralei os dedos, mas isso não
tirava ele de sua hipnose súbita. Então me aproximei.
- Psiu. Vem. Volta para cama. Não quero encrenca com os pais.
- Ouvi... um... barul... vind...
daí...
- Ahhh! Você só pode estar
brincando! Devem ser os gatos. Aqui não são os Estados Unidos para
que o papai noel apareça na chaminé – eu falei, dando de ombros para isso.
No momento em que eu ir dar as costas
ao paspalho e voltar ao meu refúgio, da janela vi uma neblina densa
rodeando a casa e um fio dessa neblina entrava pelas frestas. De
repente, algo caiu do telhado, deixando meu coração aos pulos. O
que tinha sido? Não estava nem um pouco a fim de descobrir.
Um xiiiii me fez voltar pro
paspalho.
- O que você está fazend...? - eu
fiz cara de poucos amigos. - Por que fez xixi?
Os dedos dele
tremiam, aliás, o corpo todo tremia. De onde eu estava, não sabia
se ele tremia de emoção ou de medo. Um som indistinguível rasgava o
ar. Um cheiro de sereno invadiu a sala. E meio minuto depois de
escutar o som, vi uma bota enxarcada de sangue sendo cuspida da
chaminé. Será que era o papai... noel?
Eu e meu irmão
ficamos abraçados por um breve momento.
- Quem é você? - foi só o
que eu consegui dizer, pois meu corpo não respondia ao meu
estímulo de fugir dali.